segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O Afeto



Tudo passa


Na dança permanente do tempo:


A roupa da moda, a música de sucesso, as fases da vida...


Tudo passa



Menos algo inabalável


Que se impõe com força


E derruba os costumes e diferenças


Que nos separam e dividem



É o afeto


Sentimento que brota de nossa sensibilidade


E se internaliza na digestão dos nossos julgamentos


Para externar-se na explosão de nossas reações



Falo do afeto não manipulável


Que é querer verdadeiro


Que não encarcera


Que respeita e exige respeito



Ele está na nossa alma


E se desabrocha na percepção do outro


Sem a necessidade imperativa das palavras


Sem a necessidade imperativa do tocar

domingo, 15 de agosto de 2010

Amor Próprio


O grande Vinícius dizia
"Sem você, meu amor, eu não sou ninguém"
Para mim, sem desdizer o poeta
Eu me dou o liberdade de contrariá-lo
Porque não balizo meu "ser" pelo "ser" de outrem
Como diz o também grande poeta Chico Buarque
"Apesar de você/Amanhã há de ser outro dia"

Claro,
Chico fala de política e Vinícius
De amor romântico
Para mim, duas dimensões que não se excluem
Pois tanto amor como política podem converter-se
Em meras ferramentas de dominação
A não ser que tenhamos amor próprio



quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Pequeno estranho


Se eram para mim, que doces.
Seus olhos eram doces.
Eram atentos, sinceros e tímidos.
Ah, como eram doces.
Eu que era a fria, a direta, a que achava graça.
A que te perdia.
E você não se perdeu.
Pequenos fatos, pequenos momentos.
E o assunto se cala, até da mente.
Mas não dos nossos olhos.
Porque só foi mais um instante
Para voltar toda aquela mistura indefinida, mas interessante.
Aí você foi o frio, você foi o esperto, virou toda a atenção.
Também virei, mas foi para o mundo.
Saí e nem percebi que estava resistindo.
Até então, cruzastes os meus passos, e eu caio imediatamente em encantos.
Você saiu para o mundo.
E eu fiquei só.

Isso é uma porta, escancarada para meus pensamentos.
Quanto segredo, quanto mistério no óbvio!
Quantas letras estão rendendo esse pequeno infrator.
Posso até sentir, em uma estreita fileira de genes
Você olha para mim com um olhar de ‘finalmente’
E me pede licença para passar.
Poderei ouvir sua voz, e se ela for doce como os olhos, estarei perdida.
Será a porta para me devassar.
Então poderei escrever mais uns minutos de como aquilo carrega minhas noites.
Mas até isso, é pouco. É muito pouco o que temos.






segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Veio do nada com a sua delicadeza recatada, era de se notar que necessitava de abrigo.
E recebeu, mas sem muita felicidade.
Como se realmente não tivesse outras opções.
E do silêncio veio e no silêncio ficou.
Nada se tinha de tão grandioso.
Um pequeno contato, em uma noite de atrapalho.
Em muito pouco, sua vida se resumiu.
E eu pensando que abriria uma porta para toda uma personalidade
Estava ficando mais uma vez no vácuo da incerteza.
Seu mundo em um só lugar, aconchegante de tanto se usar.
Quanta limitação, como alguém vive assim?
Cadê o brilho, o sorriso, as palavras, o som?
A timidez não é culpada de tanto.
Existe algo além, e dela é que não sairá às respostas.
Guarda a casa no seu lugar, dormindo, lendo, comendo, vendo, vivendo.
Queria saber o que se passa em sua mente.
De tanto descanso, as coisas devem fluir sem limites.
Ou não.
Ela é o que se vê. E se for, como chegou até ali ou nunca saiu?
Nunca pensou em sorrir além de si? Nunca pensou em se divertir, ou para ela isso é diversão? Quantas incertezas tenho sobre, mas vejo que tudo esse questionamento é
em vão. Só tenho uma amostra do seu dia, da sua vida. Poucas são as formas de saber se tenho muito para conhecer ou se isso tudo, é a sua doméstica solidão.


quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Vai

Larga toda essa mágoa.
Quem consegue mais viver disso?
Não é sustentável, são apenas desculpas.
É uma grande desculpa fingir.
É a maneira certa de  fugir de si mesmo.
Então, não finja mágoas.
Segure minhas mãos, meus olhos, minhas palavras.
Estamos livres demais para sofrer.
E o pior, sofrer por engano, por dor.
Venha, a vida  são estradas.
Quero escolher uma e seguir com você.
Seremos fortes o bastante, para enfrentar o nosso ‘eu’ e o mundo.
Olhe em volta, temos o bastante para isso.


Tempo

Lá vem mais tempo.
Tempo longe do amor, da cor e do tom.
Tempo longe de mim.
Limite entre o que sinto e sou.

Nada mais interessa, apenas o foco.
Além disso, só a falta.
E com as horas, vai acabando,
Enchendo a minha imensa vontade de voltar.

A cada chagada, é uma alegria maior.
Tudo se renova.
Chego em mim, e me aconchego.
No lar, flutuo.


Um certo passado

Já não sei nem mais o que pensar
nesse infinito de ilusões que estou me perdendo.
Aos poucos tudo se resume ao seu olhar
penetrando cada vez mais meus pensamentos.

Tem vezes que me sinto tão perto de ti
e realmente estou.
Mas não sei explicar, nem ao menos reagir.
Perto de ti, não consigo ser quem sou.

E nesse jogo de incertezas
a solidão toma minhas expectativas.
Não sei se devo tentar, se corresponderá
Ou se fico quieta, esperando alguma iniciativa.

Nada mais me resta, além de algumas palavras diretas.
Não sei se minhas poucas demonstrações te afetam.
Infelizmente, não consigo desistir.
E aos seus encantos, me entrego.

Para ti

Ela apenas disse de maneira fria que seria assim.
Sem explicações.
Depois de implorar, reconhecer erros alheios foi um belo favor que prestei.
Até que ponto se tem noção da maturidade?
Ela chega de repente, com idade, com o tempo?
Ou não?
Ela se guarda, se preserva e simplesmente não cresce?
Quem sabe ser maduro?
Quem sabe o que são erros?
O que é julgar?
Você simplesmente se fechou, levando consigo, qualquer esperança de poder resolver aquilo que foi criado, não por mim, sim por você.
Então fique onde está, não piore a situação.
Já está até calmo agora.
Não tenho peso, apenas você que não cresceu para encarar a realidade, a sua realidade. 

Teste

Ergueu sua mão, e apontou em minha direção.
Sabia suas intenções, sabia até seus medos.
Era valente demais para encarar a si próprio, então expandiu todo seu poder ridículo, mostrando como poderia me intimidar.
Não quis evitar esse momento, fui em sua direção.
E com um ar de quem não queria perder o foco, ele olhou intensamente em meus olhos, e desabou todas as palavras de raiva que tinha guardado para mim.
Depois de escutar serenamente cada letra, segurei suas mãos, as beijei e saí sem olhar para trás. Pude ouvir meu nome inúmeras vezes, as primeiras com uma raiva maior, depois outras vezes com um ar de arrependimento. Ele sabia que eu não voltaria, nada iria me fazer voltar.